Nascida na cidade de Cruzeiro do Sul, no Território Federal do Acre, a 3 de outubro de 1913, filha do comerciante e contabilista Joaquim Carvão e de sua esposa Auta Rodrigues Carvão que geraram mais sete filhos: Alfredo, Mário, Silvio, Aluízio, Paulo, Irauta e Alice Déa. A família Carvão mudou-se para Belém, onde faleceu a senhora Auta Rodrigues. Na condição de filha mais velha, Iracema auxiliou o pai na criação de seus irmãos. Em 23 de julho de 1937, a jovem Iracema tinha então 24 anos de idade, contraiu núpcias com o jovem oficial Capitão do Exército Brasileiro, Janary Gentil Nunes (primeiro matrimônio), ele com 25 anos (Nascido em Alenquer-PA, no dia 1º de junho de 1912, filho de Ascendino Monteiro Nunes e Laurieta Gentil Nunes), e o acompanhou em suas andanças pelo Paraná e Clevelândia. Janary comandava a 5º Companhia de Metralhadoras Anti-Aérea, em pleno curso da II Guerra Mundial, quando o Presidente da República, Getúlio Vargas, o nomeou governador do então criado, em 13 de setembro de 1943, Território Federal do Amapá. Dona Iracema já enfrentava sérios problemas de saúde decorrente de uma cardiopatia grave.
Tiveram uma menina, Iracema Carvão Nunes (1940) e um menino, Janary Carvão Nunes (1943). Tratados por parentes e amigos como Ceminha e Janarizinho. Dona Iracema, mesmo diante dos contratempos enfrentados como esposa de militar, sujeita a mudanças repentinas para lugares nem sempre dotadas de conforto, mantinha-se, também, uma mãe extremosa.
O Capitão Janary Nunes chegou a Macapá na manhã do dia 25 de janeiro de 1944, para instalar o governo do Território Federal do Amapá. Ela, os filhos e a irmã mais nova, Alice Déa, permaneceram em Belém, haja vista que em Macapá não existia sequer uma casa condiga disponível para abrigá-los. O governador providenciou a construção de uma casa de madeira próxima a Intendência Municipal (Rua Mario Cruz), para depois promover a vinda de sua família. O terreno onde o imóvel foi erguido pertencia ao casal Otávio Acioli Ramos e Paula Loureiro Acioli Ramos, pais dos jovens Aristeu e Avertino Ramos, atletas que defenderam brilhantemente as cores do Esporte Clube Macapá e da Seleção Amapaense de Futebol. No dia 1 de maio de 1944, viajando no Iate Itaguary, Dona Iracema, os filhos e a irmã, desembarcaram no Trapiche major Eliezer Levy, em Macapá. Acostumada a ver lugares degradados, Dona Iracema não estranhou a decadência da capital do Amapá.
Mesmo com a saúde fragilidade, não media esforços em suprir as necessidades básicas às pessoas carentes da pequena Macapá. Como "primeira Dama" era seu dever dirigir a comissão Territorial da Legião Brasileira de Assistência (LBA), entidade presidida a nível nacional pela senhora Darcy Sarmento Vargas, esposa do Presidente da República do Brasil, Dr. Getúlio Dorneles Vargas. A instalação da LBA-Amapá deu-se no dia 18 de agosto de 1944, cuja meta era, implantar a Campanha de Redenção da Criança e os programas Natal do Soldado e da Criança, auxílio às pessoas notadamente pobres e às famílias dos reservistas convocados para a Força Expedicionária Brasileira, construção de um posto de puericultura e permanente assistência, em remédios, vestuários e alimentação às gestantes e crianças. Tolerante e compreensiva ouvia os que a procuravam e sempre agia com o interesse de ser útil, sem distinção às pessoas pelo brilho das jóias, pelo exibicionismo das idéias ou pela roupagem que vestiam. Sempre teve permanentemente ao seu lado amizades sinceras e definitivas. Recrutou como valorosos aliados na implantação da LBA-Amapá os doutores Hildemar Pimentel Maia, Odilardo Gonçalves da Silva, Salomão Moisés Levy, seu cunhado, doutora Abelinha Valdez, Maria de Lourdes Dacier Lobato, Alice de Araújo Jucá, Olga Montoril de Araújo, Irauta Carvão Levy e Lair do Couto Freitas. Instituiu com as cinco últimas a Campanha da “Boa Vontade” visando patrocinar o Natal da Criança Pobre.
Diariamente, às 18 horas, Dona Iracema coordenava a distribuição de sopa às gestantes, parturientes e crianças pobres ou qualquer pessoa desprovida de meios para alimentar-se mais de uma vez por dia. Isso acontecia na residência governamental, devido aos cuidados com a saúde, temendo comparecer a lugares públicos. O Natal de 1944 foi marcado pela primeira grande promoção da LBA. Além das refeições próprias da época, as crianças receberam presentes. Em 1945, os trabalhos de assistência social coordenados pela primeira dama seriam ainda mais consagradores.
Naquela oportunidade ela e o governador completavam oito anos de casados.
Poucos meses antes de morrer, Dona Iracema precisou ir ao Rio de Janeiro a fim de buscar melhoras para seu estado de saúde. Retornou a Macapá depois de rigoroso tratamento e demonstrava muita disposição para cumprir seus compromissos. Entretanto, no dia 19 de julho de 1945, quinta-feira, a cardiopatia voltou a importuná-la, deixando-a de cama. Para cúmulo da má sorte, um acesso palúdico veio embaraçar o trabalho de seu dedicado médico, Dr. Cláudio Pastor Dacier Lobato. De Belém foi chamada às pressas a cardiologista Maria do Carmo Sarmento de Carvalho, que passou a lhe dar assistência médica. Às 21h30min do dia 23 de julho de 1945 (uma segunda-feira), um colapso que para alguns dos que a assistiam até passou despercebido, ceifou a vida da ilustre Dama afastado-a definitivamente do meio dos seus entes queridos e do povo amapaense. Cidadã acreana. Ela viveu apenas 1 ano e 53 dias em solo macapaense. Dia 3 de outubro ela iria completar 32 anos de idade.
Dia 24 de julho de 1945, no Cemitério Nossa Senhora da
Conceição, foi sepultada sem pompa e sem luxo. O esquife de Dona Iracema, feito
por marceneiros amapaenses, foi forrado de simples, gorgorão preto, ornado com
uma singelíssima cruz desenhada com nastro branco, estava coberto com a
Bandeira Nacional e um soldado da Guarda Territorial executava o toque de
silêncio. O Governador Janary Nunes usando seu uniforme militar segurava seu
quepe com a mão esquerda (mediante foto)
junto ao quadril. A seu lado estava o Dr. Raul Montero Waldez,
Secretário Geral do Território do Amapá. Os sacerdotes alemães Antônio Schulte
(de branco) e Philippe Blanke (de
preto) já haviam realizado as orações de praxe. Próximo ao corneteiro, entre
dois garotos, estava o Dr. Marcilio Felgueiras Viana.
Em segundo matrimônio, casou-se com a irmã mais nova de Iracema, Alice Déa, que lhe deu dois filho, Guairacá e Rudá.
O mausoléu que abriga seus restos mortais,edificado perto da
Capela de Nossa Senhora da Conceição foi construído um ano depois com dinheiro
proveniente de uma subscrição feita pelo povo do Amapá.
(Texto
adaptado da página de Nilson Montoril)
Fatos curiosos:
1) - Apesar de ter sido criado em
13 de setembro de 1943 o Território Federal do Rio Branco (hoje o Estado de
Roraima) só teve de fato o seu primeiro Governador, o capitão Ene Garcez dos
Reis, quando (lá) chegou a Boa Vista no dia 20 de junho de 1944 (D. Iracema
chegou à Macapá no dia 1 de maio de 1944) e permaneceu entre (ali) até o dia 24
de julho de 1945 (mesmo dia do sepultamento de D. Iracema).
2 - Coaracy Monteiro Nunes, irmão
do então primeiro governador Janary Gentil Nunes, foi primeiro Deputado Federal
pelo Amapá e nomeado primeiro representante do Território Federal do Amapá
(nova unidade federativa) no Rio de Janeiro, então sede do Governo da
República. Também nasceu em Alenquer, Estado do Pará, no mesmo dia de D.
Iracema, em 3 de outubro de 1913.
3-Janary Nunes foi o primeiro e o
que governou mais tempo o Amapá (quase 12 anos): de
janeiro de 1944 a fevereiro de 1956. Foi ainda Presidente da Petrobrás,
embaixador do Brasil na Turquia e deputado federal pelo Amapá.
4) - D. Alice Déa era, além de cunhada de Janary, "cria" e "aflilhada" do casal Janary-Iracema, e que, para unirem-se tiveram que pedir permissão para a Igreja. Ela tinha (têm) olhos esverdeados. está com seus 88 anos e mora no Rio de Janeiro.
obs.: peço-vos desculpas se algum fato, aquí descrito, está indevido, incorreto ou equivocado, ao mesmo tempo que espero ser corrigido. Obrigado.
Biblionet:
1) http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=136141
Fonte: Livro Personagens Ilustres
do Amapá Vol. I, de Coaracy Barbosa - edição 1997.
Nilson Montoril
Fonte: Porta-Retrato-Macapá/Amapá
de Outrora (http://porta-retratoap.blogspot.com).
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